Trata-se do segundo livro da escritora, que viveu 25 anos de sua vida em oito países africanos. O primeiro livro, que obteve grande sucesso, chama-se “...e assim se passaram dois anos. (No doce interior da África)”, onde ela conta sobre sua vida no Malawi, o país que foi seu portal de entrada para a África.Vejamos o que diz o historiador Viegas Fernandes da Costa sobre este segundo livro:Produto e vítima do mundo moderno, a Somália foi inventada pelo Ocidente, e assim como a quase totalidade dos países africanos, foi artificialmente unificada pelo invasor europeu - que não considerou a organização tribal da região - e naufragou na saliva do sedento imperialismo inglês, que depois a partilhou com a Itália. Alcançou a independência política após a II Guerra, mas como tudo que é artificial e forçado, a invenção do país Somália fracassou, e a população, já vitimada pelo agressor externo e pelas condições climáticas, viu-se envolvida nas guerras entre tribos que almejam o poder. E foi justamente neste país, quase que totalmente desconhecido dos brasileiros, mas que em muitos aspectos nos é semelhante, que se aventurou Mariana Klueger. É do seu estranhamento com um mundo que lhe é oposto, de um mundo que em muitos momentos lhe provocou o medo, a angústia e, por que não, o desespero, que brota a percepção do impossível: o perfume. "Os Aromas do Deserto" é o relato do tempo em que a autora morou na Somália, acompanhando seu ex-marido, então técnico contratado para treinar a seleção de futebol local. Um relato emocionante, lírico e que desperta a nossa curiosidade a respeito de um povo distante e diferente. Nas páginas que seguem, Mariana Klueger nos apresenta personagens reais, como a muçulmana Hallima, que a convida para assistir a uma cerimônia cultural de mutilação genital feminina, e nos coloca diante de situações espantosas, como a do Sheik que desejava raptá-la para o seu harém. Um livro agradável de ser lido e valioso como testemunho da realidade de um povo que vive na marginalidade do mundo contemporâneo, mas que ao mesmo tempo é o seu retrato mais fiel.Segue o trecho de abertura do livro:Estamos em 1980, comecinho do ano, sobrevoando São Paulo; vamos pousar daqui a alguns minutos no aeroporto de Congonhas, vindos de Curitiba.Lá embaixo, a cidade desfila ante aos meus olhos: prédios e mais prédios, os famosos "arranha-céus" paulistanos parecem se multiplicar e de repente vão crescendo. Estamos descendo, vamos pousar. Veio aquele frio na barriga que não perdi até hoje quando tenho que desembarcar em Congonhas. Parece que o avião vai pousar em cima de um dos prédios.Milhões de pessoas vivem, trabalham e estudam na capital paulista, todos num corre-corre que é famoso no mundo. Ninguém tem tempo, ninguém olha para o lado, todos concentrados nas suas vidas, nos seus problemas do dia a dia.Penso: será que alguém por aqui sabe onde é a Somália?Pois é para lá que estamos indo. Os aromas do deserto.
64 Páginas – Preço: R$ 12,00 – ISBN: 85-86857-17-3 – 1ª edição – indicado para todas as idades
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